Olá, seres incríveis!
Quando falamos sobre momentos que definiram a cultura pop, é fácil pensar nos Beatles, no cinema da Nova Hollywood ou na explosão dos games. Mas e se eu te dissesse que o lendário Grupo do Ano 24 (24年組, Nijūyo-nen Gumi) foi o epicentro de uma das revoluções mais silenciosas, profundas e impactantes na história da nona arte?
Este nome pode soar enigmático à primeira vista, mas, para quem ama mangá, ele representa o momento em que um grupo de jovens mangakas geniais, em um pequeno apartamento em Tóquio, mudou os rumos da cultura pop japonesa para sempre. Hoje, como o nerd que sou, quero te levar numa viagem no tempo para celebrarmos essas mulheres que nos inspiram e emocionam.
Vamos falar sobre como o Grupo do Ano 24 pegou o mangá shoujo até então visto como um passatempo infantil e o transformou em uma forma de arte complexa, psicologicamente profunda e visualmente deslumbrante. A influência delas reverbera até hoje em tudo que consumimos.
Prepare-se para conhecer as pioneiras que não apenas desenharam mangás, mas redesenharam o futuro de toda uma indústria.
O que foi o Grupo do Ano 24 e Por que Ele é Tão Importante?
Para entender a tempestade, precisamos ver a calmaria que a precedeu. Nos anos 60, o mangá shoujo era um território criativamente limitado. As histórias, em sua maioria escritas por homens, giravam em torno de romances escolares açucarados, comédias leves e protagonistas passionais. A arte era bonita, mas convencional. Faltava alma, faltava ousadia, faltava uma perspectiva que fosse autenticamente feminina e madura.
O Grupo do Ano 24 não era uma banda ou um coletivo formal com carteirinha. O termo foi cunhado pela crítica para descrever uma geração de mulheres mangakas, a maioria nascida por volta do ano 24 do Período Showa (1949). Elas não só surgiram na virada para os anos 70, mas também compartilhavam um desejo ardente de explodir as fronteiras do que um “mangá para garotas” poderia ser.
Muitas delas, incluindo Moto Hagio e Keiko Takemiya, chegaram a morar juntas em um apartamento em Nerima, Tokyo, que se tornou um caldeirão criativo conhecido como “Ōizumi Salon“. Ali, entre conversas, críticas e apoio mútuo, elas forjaram uma revolução.
As Mentes Brilhantes por Trás da Revolução
Este movimento foi impulsionado por artistas com visões únicas e complementares. As figuras centrais foram:
Moto Hagio: A Arquiteta de Mundos Interiores e da Ficção Científica
Se o grupo tem uma figura reverenciada como a “mãe” intelectual, é Moto Hagio. Ela introduziu uma profundidade psicológica e uma sofisticação literária inéditas. Sua obra-prima, O Clã Poe (Poe no Ichizoku), não é apenas uma história de vampiros. É um poema gótico sobre a solidão da imortalidade e a beleza melancólica da existência. Moto Hagio provou que temas como ficção científica complexa (They Were Eleven), existencialismo e horror podiam, e deviam, existir no shoujo.
- Sinopse Autoral: Imagine um shoujo que troca os corredores da escola pela melancolia eterna de uma família de “vampanellas”. Hagio não estava escrevendo um terror B; ela tecia uma análise visual sobre a dor da perda e a maldição de viver para sempre, influenciando toda a estética gótica nos mangás que viriam depois.
Keiko Takemiya: A Pioneira que Desafiou Tabus com o Shonen-ai
Keiko Takemiya foi a responsável por um dos maiores “terremotos” do gênero. Em 1976, ela publicou Kaze to Ki no Uta (A Canção do Vento e das Árvores), um drama intenso e trágico sobre o romance entre dois estudantes em um internato europeu. Foi um marco na origem do shonen-ai (hoje BL – Boys' Love) como um gênero sério.
- Sinopse Autoral: Keiko Takemiya enfrentou forte resistência editorial, mas não se contentou em sugerir. Ela mergulhou de cabeça em um drama visceral, explícito e psicologicamente denso sobre amor e abuso. Foi um ato de rebeldia que provou que o público shoujo estava pronto para temas de uma complexidade avassaladora, abrindo as portas para um universo narrativo inteiramente novo.
Riyoko Ikeda: A Historiadora que Transformou o Shoujo em Épico
Riyoko Ikeda demonstrou que o shoujo podia ser grandioso. Sua obra mais famosa, A Rosa de Versalhes (Versailles no Bara), é um épico histórico monumental ambientado na corte de Maria Antonieta. A protagonista, Oscar François de Jarjayes, uma mulher criada como homem para liderar a Guarda Real, tornou-se um ícone atemporal de força feminina e ambiguidade de gênero.
- Sinopse Autoral: Riyoko Ikeda pegou a Revolução Francesa, um dos palcos mais dramáticos da história, e a usou como pano de fundo para explorar política, identidade de gênero e dever. A Rosa de Versalhes não é só um mangá; é um fenômeno social que foi adaptado para o lendário Takarazuka Revue (teatro composto apenas por mulheres) e ensinou a uma geração que o shoujo podia ser tão épico quanto qualquer filme de Hollywood.
Outras Vozes Fundamentais
O movimento foi ainda mais rico. Yumiko Ōshima era mestre em comédias surreais e dramas sutis, enquanto Ryoko Yamagishi ousou criar uma das primeiras histórias de amor lésbico do mangá. Juntas, essas mulheres mangakas formaram uma frente unida de inovação.
As Inovações que Mudaram Tudo: O Legado do Grupo do Ano 24
A influência do Grupo do Ano 24 no mangá shoujo dos anos 70 foi total. Elas não apenas mudaram os temas, mas a própria linguagem da nona arte.
- Profundidade Psicológica: Personagens deixaram de ser arquétipos e ganharam traumas, desejos contraditórios e monólogos interiores complexos. Elas eram influenciadas pela literatura de autores como Hermann Hesse e pelo cinema existencialista.
- Expansão de Gêneros: O shoujo se libertou. Ficção Científica, Fantasia, Horror Gótico, Dramas Históricos e Suspense Psicológico se tornaram parte do repertório.
- Exploração de Identidade e Sexualidade: A androginia, o romance homoafetivo (shonen-ai) e o questionamento dos papéis de gênero tornaram-se temas centrais, influenciando diretamente obras posteriores como Revolutionary Girl Utena.
- Narrativa Cinematográfica: Inspiradas pela Nouvelle Vague francesa, elas quebraram a rigidez dos layouts de página. Usaram painéis de forma artística, sobrepondo-os, eliminando bordas e criando composições fluidas para focar na emoção, uma técnica que toda a indústria do mangá adotaria.
O Legado Imortal do Grupo do Ano 24: Uma Influência que Perdura
A história do mangá shoujo se divide em “antes” e “depois” do Grupo do Ano 24. Essas mulheres não apenas criaram histórias inesquecíveis; elas tomaram para si um gênero e o elevaram, provando que narrativas voltadas para o público feminino podiam ser artisticamente vanguardistas, intelectualmente estimulantes e comercialmente poderosas.
Elas abriram as portas para todas as grandes mulheres mangakas que vieram depois, de Rumiko Takahashi (Ranma ½) e Naoko Takeuchi (Sailor Moon) a Hiromu Arakawa (Fullmetal Alchemist). O mangá moderno, como o conhecemos, em toda a sua diversidade e complexidade, deve sua existência à coragem e ao gênio dessas pioneiras.
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Guia Nerd: Respondendo Suas Dúvidas do Grupo do Ano 24 (FAQ)
Por que o nome “Grupo do Ano 24”?
O nome vem do fato de que as principais artistas deste movimento nasceram por volta do ano 24 do reinado do Imperador Shōwa no Japão, que corresponde ao ano de 1949 no calendário ocidental.
O Grupo do Ano 24 era um coletivo oficial, como a CLAMP?
Não. Diferente do grupo CLAMP, elas nunca foram um estúdio ou coletivo formal. “Grupo do Ano 24” foi um termo criado posteriormente por críticos e acadêmicos para classificar essa geração de artistas que estavam revolucionando o mangá na mesma época.
Onde posso ler as obras do Grupo do Ano 24 no Brasil?
Infelizmente, a publicação dessas obras no Brasil ainda é muito escassa. A Rosa de Versalhes, de Riyoko Ikeda, foi publicada pela Editora JBC e é a obra mais acessível do grupo por aqui. As outras, como O Clã Poe, ainda são aguardadas ansiosamente pelos fãs.
Quais eram as principais influências do grupo?
Elas eram muito influenciadas pela cultura ocidental, especialmente pelo cinema europeu (como a Nouvelle Vague), pela literatura (obras de Hermann Hesse e outros existencialistas) e pela música rock. Essa bagagem cultural foi fundamental para a sofisticação de suas histórias.
As obras delas ainda são relevantes hoje?
Absolutamente. A influência do Grupo do Ano 24 é visível em inúmeros animes e mangás modernos, desde a complexidade dos personagens até a diversidade de temas. Suas obras são estudadas como clássicos atemporais que provaram o potencial artístico ilimitado dos mangás.
Referências:
- Hagio, Moto. The Moto Hagio Interview. The Comics Journal. Acesso em 05/08/2025.
- JBC, A Rosa de Versalhes. Acesso em 05/08/2025.
- Shamoon, D. (2012). Passionate Friendship: The Aesthetics of Girl's Culture in Japan. University of Hawai'i Press. (Fonte acadêmica sobre a cultura shoujo). Acesso em 05/08/2025.
- The Comics Journal, The Magnificent Forty-Niners. Acesso em 05/08/2025.
- Wikipedia, Year 24 Group, Acesso em 05/08/2025.
- Wikipedia, Páginas individuais para Moto Hagio, Keiko Takemiya e Riyoko Ikeda. Acesso em 05/08/2025.
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